O Voluntariado nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016
Por Any Bittar, consultora na área de sustentabilidade e sistema agroflorestal. Foi gerente de parcerias de voluntários do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016.
Quando falamos de voluntários, sempre procuramos uma definição, uma forma de sintetizar essa atividade tão multifacetada. Tem uma frase que usei inúmeras vezes em apresentações pelo Brasil do Programa de Voluntários Rio 2016 que acredito evidenciar o espírito do voluntário: “Ser voluntário é deixar de acompanhar para participar, é deixar de ver para viver, é deixar de assistir para construir” – Rafael Alves de Lima (voluntário Rio 2016).
Considerando o tema voluntariado em grandes eventos, encontramos algumas características diferentes de outros programas, pois logo de início é apresentada a jornada do voluntário, uma série de procedimentos para as diversas etapas a serem realizadas até o evento. Costumo fazer um paralelo com a jornada do herói, onde o protagonista precisa sair de sua zona de conforto e superar vários desafios até alcançar o seu objetivo final.
Dada a complexidade dos grandes eventos, etapas como: divulgação, inscrição, seleção, engajamento e retenção dos voluntários se tornam atividades desafiadoras. Nelas, a interação das informações do banco de dados para melhor adequação de perfil dos voluntários e das atividades propostas é um trabalho árduo e complexo, com necessário suporte de tecnologia e comunicação, que, ao final, se mostra extremamente recompensador.
Lidar com essa experiência na dimensão dos últimos grandes eventos que aconteceram no país, como os esportivos: Pan 2007, Copa 2014 e Jogos Olímpicos e Paralímpicos 2016 deixaram um legado de transformação no movimento de voluntariado no Brasil, pois com o número expressivo de participantes, e estamos lidando na casa dos milhares, estes se tornaram multiplicadores do conceito da jornada do voluntário, quer seja na organização em diversas instituições ou pela atuação individual.
É muito comum encontrar pessoas em atividades distintas de voluntariado com itens dos grandes eventos, como pins, bonés, casacos, mochilas, etc., comentando com entusiasmo e saudosismo a sua experiência, sensibilizando outros participantes. É uma situação contagiante de alegria e expectativa para todos, na qual não só a atividade realizada é descrita, como também as fases de engajamento. Foram inúmeras vezes que vivi esse contentamento!
O que sinto falta no Brasil é do apoio institucional para a criação de organizações que mantenham esse círculo virtuoso vivo. A partir das experiências e dos vultosos bancos de dados criados, poder-se-ia customizar as informações e interagir no desenvolvimento da jornada do voluntário de acordo com o porte, localização e perfil dos eventos.
Outro ponto que gostaria de salientar desses grandes eventos foi a participação de pessoas com deficiência no voluntariado. Se no início foi um desafio, tanto na comunicação quanto na alocação da atividade, paulatinamente as imagens dos voluntários em atuação foram mostrando o sucesso da iniciativa e inspirando novas participações. Nos Jogos Rio 2016, tivemos o primeiro Programa de Voluntários Pessoas com Deficiência Intelectual com atuação no Parque Olímpico, que contou com uma jornada exclusiva estruturada em parceria com instituições e empresas e ainda um programa de Voluntariado Empresarial, estruturado e muito bem-organizado, mostrando que é possível, por meio do voluntariado promover a inclusão e o respeito à diversidade.
A Pesquisa Voluntariado no Brasil 2021, em sua terceira edição, legitima o trabalho de milhares de voluntários na construção de um Brasil melhor, tanto no presente, quanto para as gerações futuras.
Este artigo integra uma série de conteúdos escritos à convite dos realizadores da Pesquisa Voluntariado no Brasil 2021, com intuito de analisar e enriquecer os achados do estudo. Não nos responsabilizamos pelas opiniões e conclusões aqui expressadas.